MOVIMENTO DEMOCRÁTICO DE MOÇAMBIQUE
MDM
BANCADA PARLAMENTAR
DISCURSO DE ENCERRAMENTO
DA 5ª SESSÃO DA
8ª LEGISLATURA
11 de Maio de 2017
SENHORA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA,
SENHORES MEMBROS DA COMISSÃO PERMANENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA,
SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO DO GOVERNO DE MOÇAMBIQUE,
SENHORAS E SENHORES DEPUTADOS,
SENHORES MINISTROS,
SENHORES VICE-MINISTROS,
DIGNÍSSIMAS AUTORIDADES CIVÍS,
MILITARES E RELIGIOSAS,
SENHORES MEMBROS DIRIGENTES DOS ÓRGÃOS JUDICIAIS DE MOÇAMBIQUE,
SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DA CIDADE DE MAPUTO,
SENHORA GOVERNADORA DA CIDADE DE MAPUTO,
SENHORES REPRESENTANTES DE PARTIDOS POLITÍCOS,
SENHORES MEMBROS DO CORPO DIPLOMÁTICO,
SENHORES MEMBROS DOS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL,
CAROS CONVIDADOS,
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,
EXCELÊNCIAS,
Estamos prestes a terminar a Quinta Sessão
Ordinária depois de três meses de exercício de debate parlamentar que iniciou
no dia 27 de Fevereiro do presente ano, com uma agenda aberta de 32 pontos
sendo quatro pertencentes a Bancada Parlamentar do MDM, que inclui Projectos-leis atinentes ao Regime Orgânico do
Referendo e de Revisão Pontual das Leis números 26, 27 e 28, todos de 18 de
Dezembro de 2013.
As leis 26, 27 e 28 estão interligadas e
relacionam-se com à Criação de Novos
Distritos por Província; Transferência de Áreas entre os Distritos; Definição e
Transferência de Sedes de Distrito por Província.
A motivação destes projectos assentaram nos
princípios da descentralização e desconcentração plasmados nos números 1 e 2 do
Artigo 271 da Constituição da República de Moçambique.
Como Bancada Parlamentar, o MDM pretendia adequar
a Constituição da República de Moçambique e o processo de democratização e
descentralização de forma vertical, tornando o Estado mais próximo do Cidadão,
na base de racionalização dos recursos humanos, financeiros e materiais, reduzindo-se
assim os custos operacionais e evitando-se desnecessárias disputas e a duplicação
de estruturas governamentais no mesmo espaço geográfico.
Defendemos uma Governação Local na Base de
Instituições e Entidades estáveis, cuja autonomia administrativa, financeira e
material sejam capazes de dinamizar uma
cooperação institucional mais estável, para o bem comum e satisfação do
cidadão.
O artigo 263 da Constituição da República já
estabelece Princípios Organizatórios.
Um processo de democratização,
descentralização e desconcentração não é compativel com a existência de Governos
Distritais em espaços legalmente constituídos como autarquias. A duplicação de
entidades e estruturas nas autarquias, só promove desperdício, desinteligências
e disputa de espaço.
O Plenário desta casa fez ouvidos de mercador
ao debater este projecto, com as duas bancadas maioritárias a votarem pela
permanência de Governos Distritais nos municípios. É contraproducente ser-se
simultanamente partidário de uma descentralização e desconcentração
administrativa e defensor de um governo central dominante, controlador e
absoluto.
Reiteramos que com a actual conjuntura política
e económica do país, nada oferece razões, senão objectivos politicos
inconfessos, da persistência em manter tanto os Governos Distritais nas áreas
municipais, como um Governador para a Cidade de Maputo.
Desafiamos a Vossa Excelências:
Se justo a permanência da figura de um Governador
para uma Cidade como Maputo, que seja eleita uma Assembleia Provincial para
fiscalizar o orçamento e os actos do governo da cidade, uma vez detentora de
estatuto de província!
Sejamos coerentes.
O Projecto de Lei do Regime Orgânico do
Referendo contiuna em banho- maria, a
ser deliberadamente protelado com objectivos obscuros.Tentar ignorar este
projecto é violar a Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação,
aprovada nesta magna casa do Povo.
No número dois de Décimo Artigo desta Carta o
Referendo é reconhecido como um recurso para a busca de consenso. E o povo,
está a espera de todos os mecanismos sociais que garantam consensos.
Excelências,
No
passado dia 26 de Abril do corrente ano, a Assembleia da República com voto da
maioria aprovou a Conta Geral do Estado de 2015 que incorpora as transações
financeiras não autorizadas pela Assembleia da República, vulgarmente
conhecidas como dívidas ocultas.
A tentativa
de legalizar estas dívidas, tornando-as uma dívida pública, constitui um golpe maquiavelicamente
fatal à economia nacional por empobrecer ainda mais as já pobres famílias
moçambicanas.
As consequências destas dívidas estão a ter o
impacto negativo na vida de todos. O metical
está desvalorizando; o custo da vida tende a subir, com o poder de compra das
populações e o povo em geral reduzindo drasticamente, pondo em causa a
satisfação das necessidades básicas e a harmonia social nas classes mais
desfavorecidas.
Além da crise financeira, Moçambique tornou-se
um país de não confiança nos mercados sérios; um país duvidoso. O crescimento
da taxa de desemprego está associado à estas dívidas ocultas, provocando a
elevação da onda de criminalidade e desestabilização das nossas famílias.
Temos que Resgatar o Pais com medidas de
responsabilização aos autores da engenharia da fraude financeira que formaram
as empresas fantasmas de EMATUM, PROINDICUS e MAM. É preciso desencadear todos
mecanismos legais para a recuperação dos montantes desviados.
Moçambicanos
e Moçambicanas,
A nossa
posição, como Bancada Parlamentar do MDM, é que o povo não deve pagar estas
dívidas ocultas. Muitos menos que as mesmas sejam inscritas nas Contas Gerais
do Estado.
Não
possuindo o número necessário de deputados para recorrer ao Conselho
Constitucional para esta interpelar contra a decisão do Plenário da Assembleia
da República, com responsabilidade e defesa do nosso povo, solicitamos no dia 3
de Maio de 2017 ao Provedor da Justiça para solicitar ao Conselho
Constitucional a declaração de inconstitucionalidade das resoluções que aprovam
as Contas Gerais do Estado de 2014 e 2015 respectivamente, por terem incorporado
contas ilegais e não autorizadas pelo parlamento.
Com
serenidade, aguardamos o desfecho da nossa solicitação.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Os atrasos e adiamentos consectivos por parte
do Auditor Internacional à Dívida Oculta preocupa todos moçambicanos honestos, que
com muita ansiedade aguardam a divulgação do relatório final para um devido
posicionamento.
Excelências,
No passado dia 1 de Maio tivemos a honra de
estar presentes nas celebrações centrais do Dia Internacional do Trabalhador.
Manifestamos a nossa solidariedade para com os
trabalhadores moçambicanos. Reconhecemos o sacrificio que consentem para a produção
de bens e geração de riqueza perante salários magros e falta de transporte público
digno e humano.
Tudo acontece por falta de políticas de engajamento
construtivo e inclusão; ausências de
estratégia apropriada de desenvolvimento de pequenas e médias empresas; ausência de uma política nacional de
desenvolvimento agro-pecuário e comercialização; e de uma lei de trabalho que promova
emprego, formação profissional e competição.
O Governo não deve interferir no mercado nem
nos concursos públicos mas sim garantir e assegurar que as normas, regulamentos
e as leis sejam respeitados.
As empresas públicas e privadas devem ser os motores
de desenvolvimento, e não sacos-azuis para o enriquecimento ilícito de alguns.
A crise de transportes públicos não se resolve
com medidas Ad Hocs. Resolve-se mas
com estratégias de corporação público-privada e governos municipais; com infra
estruturas, estradas e oficinas de manutenção adequadas.
Ainda sobre os trabalhadores, não podemos
ignorar o sector da função pública de todos os níveis, que se sentem lesados
por falta de cumprimento da calendarização do pagamento dos seus salários,
progressão na sua carreira, horas extras, assistência medica e medicamentosa.
A crise de água em algumas regiões do país
afecta milhares dos nossos concidadãos. A política de conservação de água está
a falhar! Urge uma estratégia nacional para que haja capacidade de conservação
da água. Existe um conjunto de factos que não acontecem simplesmente porque a
corrupção tomou conta da nossa sociedade, partindo do vertice cimeiro da
governação do país.
No dia do trabalhador, contingentes para-militares
e militares, fortemente armados foram mobilizados para intimidar e impedir que
convidados de algumas organizações dos trabalhadores, devidamente reconhecidas
no país, marchassem de mãos dadas com outros trabalhadores. Balurdios de
dinheiro são gastos em operações desnecessarias de demonstração de força. Que
valores monetários se envolvem nestas operações de intimidação?
Reiteramos as nossas saudações aos
trabalhadores, empresários e patronos de que devemos nos empenhar na criação de
um bom ambiente de trabalho, produtividade e lucros, sempre focalizando na
justiça social.
Excelências,
Os ventos da Paz que sopram de forma timida
renovam a esperança de uma nação que tem de sarar as feridas. A perda de ante-queridos
e a destruição de bens descapitalizou os que tinham na estrada nacional uma
fonte do seu rendimento. Estes ventos sopram da mesma forma que o sol brilha
para todos. O reencontro da nação não pode ser uma ficção, é uma obrigação
moral. O envolvimento e o engajamento de todos moçambicanos na manutenção da
paz é a única alternativa que temos para nos apropriarmo-nos da nossa dignidade
de seres racionais.
A Paz e Reconciliação Nacional Efectiva deve
ser uma agenda nacional, envolvente e inclusiva. Na pátria amada não há
moçambicanos da primeira, nem da segunda ou terceira. Os que reclamam a exclusividade,
só revelam a ignorância da época em que vivemos. O futuro da nação é uma
pertença colectiva, que exige a participação de todos na solução politica e
social. É preciso reinventar o Estado Moçambicano.
Continuamos coerentes com as nossas posições
assumidas desde a primeira hora nesta casa do povo.
A Assembleia da República é a única
instituição vocacionada para um amplo debate nacional; onde devemos-nos engajar
na Revisão da Constituição da República, reinventando o nosso Estado, garantindo-se
assim uma efectiva separação dos poderes públicos, com o sistema judicial livre
das amarras políticas.
Devem-se clarificar as zonas de penumbras
sobre a descentralização, desconcentração e os termos de referência do
representante do Estado com comandos constitucionais e garantir a eleição dos
Governadores Provinciais.
O Movimento Democrático de Moçambique já tem
uma Proposta da Revisão da Constituição da República incluindo um pacote de
revisão de determinadas leis que devem sofrer alterações com a existência de
uma nova figura de Governador Provincial Eleito.
As diferenças políticas não devem servir de
base para impedir a quem quer que seja de exercer o direito de participar no
debate político e na formulação de uma estratégia de um projecto da
reconstrução nacional e conquista da independência económica.
A realização de um Diálogo Nacional Inclusivo
é um imperativo nacional para manutenção da Paz; efectivar a Reconciliação
Nacional; resgatar a credibilidade de Moçambique; estabelecer a plataforma do
sistema democrático moçambicano e a governação descentralizada; reforçar a
Política Nacional da Defesa assente nas Forças Armadas e Defesa Republicanas;
consolidar os ciclos eleitorais num ambiente democrático, multipartidário,
transparente, participativo e livre da intimidação; e estabelecer um quadro
político são, pós processo eleitoral de 2019.
Senhora Presidente da Assembleia da República,
Senhor Primeiro Ministro,
Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,
Caros Convidados,
Excelências,
A sessão que termina hoje foi uma sessão
coberta de muitos mistérios que um dia a história saberá explicar.
A Assembleia da República continua a ser refém
de uma agenda extra-parlamentar.
É contra estas adversidades que colectivamente
teremos que vencer para tornar a Assembleia da República de facto o centro de
debate de ideais, legislar e fiscalizar os actos do executivo.
A Cultura da Violência tende ganhar proporções
alarmantes, que denuncia e caracteriza o mudus vivendi da sociedade
moçambicana. A sociedade moçambicana esta sendo atacada fortemente pelos vírus
de intolerância, recurso de violência para resolver litígios ou para ser ouvido
e considerado.
Uma palavra a Juventude, se queremos construir
um futuro brilhante para futuras gerações e deixar um legado, devemos cultivar
a cultura de tolerância, compreensão mútua, e respeito pela vida.
Temos que ser cidadãos que exigem qualidade e
ser bem servido. Para que isso possa acontecer, temos que exercer a cidadania.
Agora, mais do
que nunca, temos que decidir o nosso futuro.
O Movimento Democrático de Moçambique reitera
o apelo aos moçambicanos para que nos engajemos na construção de uma sociedade
coesa; um Estado apartidário que valoriza a iniciativa individual e respeita a opção
política de cada um. A legitimidade democrática deve ser adquirida por via um
processo eleitoral transparente e justo.
Caros Deputados,
Fazemos votos para que Moçambique se
reencontre, e cada um de nós faça a sua parte.
Aos funcionários da Assembleia da República e
o pessoal do apoio das Bancadas Parlamentares vai o
nosso sincero agradecimento pelo bom trabalho prestado.
Ao terminar, queremos desejar bom regresso aos
círculos eleitorais, ao convívio das famílias e amigos.
Moçambique para Todos.
Obrigado pela atenção.
Maputo, 11 de Maio de 2017.
Lutero Chimbirombiro Simango, Chefe da Bancada
Parlamentar.
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